Retratos em Construção - Situação 1 (tarde de abertura)
Um comentário:
Anônimo
disse...
No princípio era o Sol
No princípio era o Sol, o primado do Sol da resplandecência. A essência da luminosidade pré-incrita em desassossegos acordados de um bando de aves, elevados num canto divino em cantos ermos e repartidos e logo povoados na veia dos verbos e dos sentidos.
No princípio era o abraço a explodir virginal da madre terra em destemperos de gestos primitivos, em mãos revoltas, de asas soltas, sem corpos, de um amor abstracto, sem palco, de feição feérica, de tão ardente. E logo, logo o medo, e das neves o branco, e o espanto e o pranto desordenado do ar fluido aprisionado em redes irresolutas, em redes densas.
Depois as crenças, as lutas, a desordem da veste e do posto, na perda acesa, na insolência maior de um querer e não querer, no amortalhar das palavras sem sangue, sem massa, sem carne, a dissiparem-se na insolvência de luas e trigos virulentos, em cores plúmbeas de Sol, já pétreas, pretéritas e tão presentes.
No princípio era o Sol e as palavras, e o sonho e a utopia. E todas juntas, em agitações rítmicas de corpos celestes, de astros alongados, estiolados em cio na grama, no chão e na chama. Fixados de tão agrestes.
No princípio era o Sol, desenhado redondo de tão exacto e no final o risco impreciso do precipício do gesto.
Um comentário:
No princípio era o Sol
No princípio era o Sol, o primado do Sol
da resplandecência. A essência
da luminosidade pré-incrita
em desassossegos acordados
de um bando de aves, elevados
num canto divino em cantos ermos e repartidos
e logo povoados na veia dos verbos e dos sentidos.
No princípio era o abraço a explodir virginal
da madre terra em destemperos de gestos primitivos,
em mãos revoltas, de asas soltas,
sem corpos, de um amor abstracto,
sem palco, de feição feérica, de tão ardente.
E logo, logo o medo, e das neves o branco,
e o espanto
e o pranto desordenado
do ar fluido aprisionado em redes irresolutas,
em redes densas.
Depois as crenças, as lutas, a desordem
da veste e do posto, na perda acesa, na insolência
maior de um querer e não querer, no amortalhar
das palavras sem sangue,
sem massa, sem carne, a dissiparem-se
na insolvência de luas e trigos virulentos,
em cores plúmbeas de Sol,
já pétreas, pretéritas e tão presentes.
No princípio era o Sol e as palavras,
e o sonho e a utopia. E todas juntas, em agitações rítmicas
de corpos celestes, de astros alongados, estiolados em cio
na grama, no chão e na chama. Fixados de tão agrestes.
No princípio era o Sol, desenhado redondo de tão exacto
e no final o risco impreciso do precipício do gesto.
Mel de Carvalho
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